Quatro Décadas de Cuidado e Propósito: a trajetória do Dr. Davis Taublib no Froien Farain

Vamos comemorar o Dia do Médico (18 de outubro) com um lindo relato do clínico geral e geriatra Dr. Davis.

1. O que o inspirou a escolher a medicina, especialmente o cuidado com os idosos?

Sou um sobrevivente de uma doença grave na infância e, como neto de imigrantes judeus, pertenço a uma geração em que — como diz a piada — “perguntaram a uma mãe judia com três filhos qual a idade deles, e ela respondeu: o médico tem 6, o engenheiro 4 e o advogado 2”. 🤩🤣


2. Como e quando você começou a trabalhar no Froien Farain?

Eu ainda não era formado. Em 1985, era estagiário do CTI do Hospital Israelita Albert Sabin. Na época, o hospital oferecia cobertura médica e de ambulância ao Froien Farain. Durante as férias do Dr. Abrão Huf, que era o médico responsável pelo atendimento no Froien Farain, fui convidado a substituí-lo.
Quando ele retornou das férias, decidiu se aposentar e me convidou para assumir o seu lugar. E assim fiquei! Estou aqui desde 1985.


3. O que significa, para você, ser médico no Froien Farain — uma instituição social, beneficente e judaica?

Significa tudo! Se existe uma forma de realizar uma mitzvá completa, é trabalhar como médico no Froien Farain.
É a manifestação máxima de bondade, pois ajudamos pessoas sem esperar nada em troca.


4. Existe um momento marcante da sua carreira que representa o verdadeiro sentido de ser médico?

Vários! Costumo dizer que nunca poderei contar grande parte das minhas histórias…
Como diz o ditado judaico: quem salva uma vida, salva o mundo.
Você não cuida apenas de um paciente — você cuida de uma vida.


5. Como você enxerga o impacto do seu trabalho no dia a dia dos moradores do Lar Bem-Estar/Froien Farain?

Pergunta boa! Nem tudo o que podemos ver é tudo o que pode ser visto.
Devemos aliviar sempre e curar quando possível. À medida que nos aproximamos do fim da vida, há menos chances de cura, mas sempre é possível aliviar — não apenas o sofrimento do paciente, mas também o dos familiares, amigos, cuidadores e de todos que fazem parte do seu convívio.


6. Depois de tantos anos de dedicação, o que ainda o emociona na prática da medicina em nossa instituição?

A continuidade da instituição, sua história e trajetória.
Dos seus 101 anos, estive presente em 40. Quer algo mais emocionante do que isso?


7. Na sua visão, o que é essencial para oferecer um cuidado digno e humano aos idosos?

É uma missão complexa. Lidamos com pessoas fragilizadas, vulneráveis e dependentes, com múltiplas patologias e comorbidades.
Por isso, é fundamental o planejamento da estrutura física, a organização dos serviços e rotinas, o controle de qualidade e a formação contínua da equipe multidisciplinar. É preciso dedicação e empenho constantes para buscar sempre a melhor abordagem bio-psico-social.


8. Ao longo da sua trajetória, o que aprendeu sobre o verdadeiro significado de cuidar de pessoas idosas e como a experiência no Froien Farain contribuiu para esse aprendizado?

Cito uma passagem do livro Kohelet (Eclesiastes), “Palavras do Pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém”:

“Vaidade de vaidades, diz o Pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra permanece para sempre.
Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; continuamente gira o vento, e volta fazendo os seus circuitos.
Todos os rios correm para o mar, e o mar nunca se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam a correr.
Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.”

Essa passagem me lembra diariamente que a vida é um ciclo — e que cuidar de quem chegou até aqui é, acima de tudo, um gesto de respeito, aprendizado e continuidade.